o primeiro domingo do mês

"as saudades que tenho tuas!
nem as sonhas nem as sabes nem as pensas."
uma vez, à distância, disse algo do género.
indirectamente, nem comentas-te. estavas demasiado entretida com algo que agora dás valor… eu já tive o meu tempo…
hoje é domingo. o dia favorito de muita gente e o meu que mais detesto. é um dia que nada se faz e pensamos em demasiadas coisas que, talvez, já nem valem a pena…
é neste dia que paro e recordo-te.
recordo-nos… no primeiro domingo de cada mês. (no segundo já tenho almoço e jantares em festas, no terceiro há a feira das antiguidades e no quarto tenho ensaios e tertúlias sobre “amor”).

o teu cheiro. que eu nunca encontrei em nenhuma perfumaria ou loja do chinês… senão em ti.
a cor da tua pele única e que emitia um som característico ao toque… ou então eras tu com a boca e eu nunca me apercebi.
os teus olhos sempre a sorrirem independentemente da tua boa ou menos boa disposição.
a tua boca de dentes brancos que contrastava com a minha de dentes amarelos.
o cheiro a morango do teu hálito era algo irresistível em ti e eu que sempre tive a vontade de o ter, roubava-te beijos quase que perdidos só para ter um resquício dele. hoje em dia os morangos vêm de estufas espanholas… eu ainda sei distinguir a diferença…
os teus risos esvoaçantes que assustavam os pombos no meio do jardim quando eu era estupidamente parvo nos meus comentários e eu envergonhado porque esse riso dizia o quanto sentias por mim e as pessoas a olharem e eu tímido e sem saber o que fazer e mesmo assim a continuar a ser parvo, mas desta vez estupidamente tímido e intimidado com as pessoas a olharem para nós, alegres por saberem que éramos felizes. mas eu sempre preocupado com o que estava à nossa volta, mas feliz ao teu lado.
a tua mão na minha. a minha grande, a tua pequena. a minha "mão-japão". a tua parou naquele tamanho e eu a desejar que não crescesse mais porque assim era mais fácil eu agarrar-te e, da mesma maneira, mais fácil nunca te soltar. a não ser que pedisses.
eu a perguntar-te coisas e tu a nunca me responderes directamente porque era óbvia a resposta, mas mesmo assim eu a querer saber e a nunca ouvir o que queria…
e tu a dares-me presentes e eu a nunca dar nada porque não sabia o que dar…
e eu a querer fumar e tu a não quereres que fumasse, mas a achares-me bonito de cigarro na mão.
e tu a beberes meia superbock e eu a não querer porque sabia que ias ficar bêbada ou em demasiada histeria. e eu a não conseguir controlar-te mesmo tu com a mão pequena.
e eu com ciúmes porque saías com amigos e tu sem ciúmes porque sabias que eu não tinha amigas.
e eu a dar-te de tudo o que sou e pudesse vir a ser enquanto fazíamos amor. o meu arfar em tom querido. a minha vontade de te montar com mais voluptuosidade, mas a conter-me mostrando-te amor e carinho. e nós no amor calminho e às vezes menos calmo e mesmo assim tu a parares porque querias mimo e eu a não entender nada porque o meu amor por ti também continha mimo e mais coisas boas, mas mesmo assim a parares e a querer conversar sobre coisas bonitas. e eu a não querer, mas obrigar-me a isso só porque te tenho no meu coração mesmo tu diante de mim.
e no fim perguntavas-me se te amava… e eu triste porque pensei que te tinha mostrado isso e muito mais. e mesmo assim a dizer-te que sim, mas depois a compensar-te com palavras escritas em prosa porque não sabia demonstrar-te muito melhor do que isso, ou a comprar-te chiclas de morango porque sabia que eram aquelas que gostavas. e tu a dares-me uma porque sabias que eu gostava do teu hálito e assim não te roubava beijos no meio da rua porque no fundo ambos éramos discretos no meio da multidão.
e tu doente e a passares-me a gripe, mas eu a não importar-me.
e tu sempre doente e eu a não entender de onde vinha tanta rinite.
e nós na cama, no amor.
e nós no sofá, no amor. porque não aguentávamos cinco minutos de televisão ligada. um ao lado do outro.
e nós na rua de mão dada.
e tu nas lojas e eu de mãos soltas.
e tu de um lado e eu do outro
e tu em casa entretida com algo novo que agora dás valor, e eu na minha a recordar-te .
a pensar no primeiro domingo do próximo mês.

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