actrizes

tiras-me a vontade.
vejo-te em palco e tiras-me a vontade.
dou voltas na cadeira porque tiras-me a vontade.
anseio por um intervalo, um corte de luz, que um projector caia, um ataque cardíaco, um ataque de pânico, algo que me faça sair daqui. que entre um louco e bata palmas.
e não quero ter de esperar por ti no fim, dar-te dois beijos e dizer que gostei. “uau, que serão espectacular.”; não me apetece dizer que te gostei. não me apetece mentir.
não me apetece ter de acompanhar-te até tua casa e lá ficar. não quero beber nenhum copo e discutir contigo aquilo que devia ter visto e não vi. entre aquilo que o autor defende e a merda que fizeste. a dramaturgia… ah, a dramaturgia!...
não entendo porque é que não dizes os érres.
nem tu nem a tua suposta personagem dizem os érres.
não entendo como te deixam estrear sem dizeres os érres.
não entendo como te deixam ser actriz sem dizeres os érres.
não consigo beijar uma mulher que não diz os érres.
o copo na mão pesa e treme, cai e não parte. é de plástico. voltas a pagar-me outra bebida. digo que não entredentes. ou pelo menos penso. detesto cerveja. não consigo beber cerveja. o som do bar aumenta e não consigo ouvir-te. tens que te aproximar de mim para ouvir-te. detesto o hálito a cerveja. tu tens hálito a cerveja.
trincas-me a orelha. detesto a ideia de que fiques com o meu brinco na boca.
não gosto da ideia de nos verem juntos depois da tua prestação de hoje.
entendo que as bebidas com álcool, sejam uma boa desculpa para a vontade de cópula. mas não há vontade de foder. e a bebida, essa que não bebo, vou vertendo gole a gole pelo chão. e o chão tão bêbado quanto tu.
estou completamente sóbrio e quero ir dormir. tenho sono e continuo no bar.
há tanto tempo que não estávamos juntos! estás tão pior…!
o gato goeu a golha da gagafa de gum do guei da Gússia.
sai-me boca fora. sorrio no fim. não te apercebes. riste-te e achas-me bêbado. dás um berro e chamas-me de bêbado. não sei o que me deu, mas tinha saudades do teu riso. contagio-me pelo teu riso.
detesto os meus dentes.
leva-me para casa. agora, já. pela última vez. tenho a outra orelha a precisar de uma trinca. só assim me dás tanta vontade.

2 comentários:

Maga disse...

Gajas.. E efémeros talentos..
Ainda bem que existe vinho, do bom e do rasca..

pedrodamião disse...

haja alegria!