22.06.02-03.33.26.07.19-19.34.

Acabo por me deitar,
aqui,
na cama do cansaço.
Nunca tive um déjà vu,
mas este cansaço nunca foi o primeiro.
Recolho-me.
E espero pelo sossego que já se estende por entre os lençóis que me cobrem.
Espero o momento de partir.
Um sonho embala-me e deixo-me ir
com se fosse um bebé.
Sou grande demais para pedir colo… sou grande demais.
Por isso, apenas sonho.

Acordo.
A chuva lá fora. A buzina do carro do homem do pão. As crianças no recreio. O comboio que passa. O sol que insiste em não aparecer. Uma dor no peito.
Quem me dera ter continuado a sonhar.


(texto perdido em 2003. encontrado e revisto em 2019)

risco zero

hoje masturbei-me. unicamente para deixar de pensar em ti.
imaginei-te; e, no fim, livrei-me de ti.
enrolada num lenço de papel floralys-soft.

nada para lembrar

nunca soube foder pela última vez.
e mesmo a saber, acho que não seria nada de magnífico.
o tempo muda (ontem choveu, hoje faz calor) e os corpos crescem... as tuas virilhas roçam uma na outra (aposto que estão roxas), mas o teu pescoço continua a ser de veludo.
do meu cabelo escorre óleo, das minhas mãos gordura e a minha barriga veste um L.
nunca soube foder-te pela última vez.
e mesmo a saber, acho que não seria nada para lembrar.